O advogado e artista plástico Eduardo Medina Guimarães está estreando na literatura com o romance Depois da Chuva. O livro é centrado em um mistério que ronda uma pequena cidade interiorana, o qual irá mudar a vida de todos os seus habitantes. Eduardo tem, no sangue, a verve de seu tio, o já falecido escritor Josué Guimarães, do qual herdou o talento para reproduzir minuciosamente a vida e o cenário onde tudo se passa. Confira abaixo um trecho do livro:
“Bernadito adormeceu na rede com os braços e pernas caídos para fora. No sono pesado, sonhou com um céu distante e cansativo de alcançar. No entanto, sentia-se bem, aliviado de seu peso corporal. Recordaria, mais tarde, a estranha sensação de leveza, e como havia sido fácil romper essa barreira. Deparara-se com Enofre, forte, alto e fardado. Ele mantinha a espada na cintura e ostentava uma fisionomia preocupada. O padre reparou: ele estava com os cabelos cortados e a barba feita. – Afinal, meu amigo, aparecestes? – indagou o revolucionário. Bernadito não conseguiu responder, apenas moveu os ombros num gesto de concordância.
O outro continuou, disse já estar prestes a descer, caso ele não viesse visitá-lo. Mas assim era melhor, facilitava as coisas, talvez fosse até menos traumático. O padre, mudo, sentia um medo terrível lhe consumir a espinha. – Não tenha medo padre. Sente-se aqui, por favor. Meu assunto é curto, não pretendo cansá-lo –. Bernadito sentia um mal-estar naquela conversa, mas sentou-se assim mesmo, tendo a certeza de que aquilo era um sonho. Enofre falou do próximo sermão: ia ser preciso falar da morte, da proximidade dos céus, do tempo eterno, da vida que passa, enfim. Concluiu um pouco irritado: essas coisas mais divinas”.